Como está sua saúde mental?

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Setembro amarelo

É provável que você já saiba dos benefícios que praticar atividades físicas e ter uma dieta equilibrada trazem para a sua saúde física. Mas é importante lembrar que este conjunto de ações também é essencial para manter a saúde mental em dia. Pensando em conscientizar a população sobre o tema, o Setembro Amarelo, campanha brasileira de prevenção ao suicídio, é celebrado desde 2014 e foi criado pela Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM.

O mês de setembro foi o escolhido porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde – OMS – em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo. No Brasil, os números se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. Para  mudar este quadro, é imprescindível sair de uma rotina sedentária.

Setembro amarelo: saúde mental x exercícios físicos

Você já viu aqui, no BIO Blog, que apenas uma semana de inatividade física é o suficiente para diminuir a saúde mental. E que uma pesquisa recente, publicada na revista científica Frontiers of Psychology, sugere que se manter ativo oferece ainda mais benefícios no combate à depressão

A prática de exercícios físicos é, de fato, indispensável para a saúde mental. Ao realizar uma atividade física, liberamos neurotransmissores que nos trazem sensação de bem-estar, como a serotonina, a dopamina e a endorfina.

A serotonina ajuda na diminuição do estresse e de dores de cabeça, além de promover sensação de saciedade, alívio dos sintomas da TPM e relaxamento. A dopamina, por sua vez, regula o humor e o estresse, auxilia a memória e o controle das funções motoras, melhora a concentração e ajuda a regular o apetite. Já a endorfina também favorece o relaxamento, reduzindo o estado de tensão do corpo. Desta forma, também atua no combate a questões emocionais, como a ansiedade e a depressão.

“Eu considero a atividade física como hábito essencial, fundamental para nosso equilíbrio emocional, para a qualidade de vida”, diz Felipe Becker, psiquiatra membro titular da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). 

“No meu caso, para todos os pacientes, para qualquer quadro, eu indico exercícios físicos regulares, de duas a três vezes por semana. Na infância e adolescência, eu cobro os pais e explico que é fator obrigatório, não negociável. Inclusive a gente considera, na adolescência, o fator protetor para suicídio”, explica o médico. “Nos casos de depressão, pela minha experiência, observo que os pacientes que iniciam a prática de atividade física regular tem diminuição de 25 a 30% na quantidade de remédios que precisam tomar para o tratamento da doença. Então, é um fator que auxilia o equilíbrio emocional e a qualidade de vida, e se faz faz essencial para a manutenção e organização emocional, mental e de bem-estar das pessoas”.

Liliana Seger, doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), concorda com Felipe e vai além, afirmando que a saúde mental não pode ser separada da física. “A gente sabe que acontecimentos pelos quais passamos, como a perda de um familiar, divórcio, doenças, traumas etc. podem dar origem a doenças mentais. Então, as pessoas precisam entender que o exercício físico não pode começar a aparecer e ser necessário a partir de um evento difícil. Ele precisa ser feito a todo momento, inclusive como forma de prevenção dessas doenças”, diz.

Cardio ou musculação?

Para Luiz Carnevali, doutor em Biologia pela USP e diretor técnico da Bio Ritmo, não há diferença para a saúde mental. O importante é se movimentar!

“Para o seu corpo, para os músculos, há diferença entre fazer cardio ou musculação. Mas, para o seu cérebro, o que importa são o estímulo e os hormônios e neurotransmissores liberados pelo esforço em si”, explica.

Saúde mental x alimentação saudável

Nem só de exercícios físicos vive uma mente sã. Uma alimentação equilibrada tem impacto direto em nosso bem-estar. “Alguns transtornos psicológicos são modulados pela qualidade da dieta, por isso, uma alimentação saudável, contendo vegetais, frutas, grãos integrais, laticínios de baixo teor de gordura, peixe e azeite pode melhorar sintomas e marcadores inflamatórios desses transtornos”, nos conta Fúlvia Hazarabedian, nutricionista e head da plataforma de nutrição Bio Nutri.

De acordo com Fúlvia, determinados alimentos — como chocolate meio amargo, aveia, brócolis, ovos, folhas verde-escuro (acelga, espinafre etc.), peixes, e frutas  — podem auxiliar a saúde mental e a disposição.

Para que a alimentação seja considerada saudável, ela deve fornecer nutrientes, vitaminas e minerais que necessitamos para o bom funcionamento do organismo. Desta forma, é de suma importância ter equilíbrio e controle na quantidade, qualidade e diversidade dos alimentos. 

“Além de água, nosso corpo precisa de carboidratos (de preferência integrais/complexos), proteínas (de baixa quantidade de gordura), gorduras (insaturadas), vitaminas, fibras e minerais. Essa adequação garante o bom funcionamento do nosso organismo”, explica ela.

Uma dieta equilibrada pode, ainda, ajudar na prevenção de transtornos mentais. “E também pode prevenir outras doenças, como câncer, doenças cardíacas, obesidade, diabetes e outras enfermidades crônicas, como hipertensão”, finaliza a nutri.

A importância da terapia

Engana-se quem pensa que apenas pessoas com questões complexas deveriam fazer terapia. O tratamento é uma ótima ferramenta de autoconhecimento. Quando falamos, na terapia, estamos nos escutando, o que é diferente de simplesmente pensar nos problemas. 

Além disso, o psicólogo é uma figura neutra e técnica, que sabe pontuar questões na hora certa e realizar intervenções empáticas, bem como fazer associações de problemas que a pessoa está repetindo em diversos pontos da vida e não está se dando conta. É possível acessar informações de muitos anos atrás, inclusive da infância, e ressignifica-las.  

“Você vai entendendo que repete diversos comportamentos, o motivo pelo qual isso acontece e, se isso te atrapalha, te traz prejuízos, naturalmente você vai tendo consciência desse comportamento que antes era inconsciente e pode mudá-lo”, explica Becker. 

“Isto, basicamente, é desenvolver maturidade psíquica e inteligência emocional. É saber entender, interpretar, compreender o que que é do outro, o que que é seu, e lidar com isso e e organizar”, diz ele.

Já Liliana acredita que é interessante ter um objetivo claro ao realizar o tratamento. “A terapia é recomendada mesmo para pessoas que acreditam não ter questões a serem tratadas, mas é importante entender qual é o objetivo para um processo terapêutico, pra que ele possa ser focado e, de fato funcionar”, diz.

“Normalmente, a gente tem, sim, um foco na psicoterapia, e ela tem normalmente um prazo razoavelmente definido. Porque, se a gente não tem um foco, a gente não faz um diagnóstico e, se a gente não faz um diagnóstico, não trata exatamente aquilo que a pessoa está precisando.”